quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Abre a porta Mariquinha.

Sempre tive sorte com porteiros: ou são muito chatos, ou são legais. Até tem alguns que de tão legais começam a se encaixar no grupo dos chatos.

Outra coisa que os porteiros podem ser é: entediados. Moro em um prédio que tem porteiro faz três anos e eles pedem demissão e são admitidos tantas vezes quanto troco de roupa. Nunca vi.

Nesses três anos já ouvi várias pérolas. Já que porteiro não tem muito o que fazer, além de abrir e fechar a porta, e chamar por interfone os moradores, atender tele entrega, eles devem passar o dia inteiro pensando muitas coisas. Uma, por exemplo, é que tipo de assunto eles poderiam puxar contigo quando tu passar pela portaria.

O ruim de porteiro puxar assunto (bom pra eles que ficam mais ocupados), é que ocupa teu tempo. Na verdade, o que eu mais quero quando chego em casa é entrar o elevador e fazer qualquercoisaqueeuquiser em casa. E quando eu coloco o pé aqui, o porteiro vem puxar assunto.

Acredito que com o passar do tempo os porteiros fiquem mais curiosos e fofoqueiros. Bom, pelo menos se o porteiro falar de mim por aqui, a única que eu conheço é a síndica. Não tem muito pra quem espalhar o que eu faço, ou deixo de fazer, e quem freqüenta meu apartamento.

Mas eu tenho o meu porteiro favorito. Ele trabalhava aqui desde quando me mudei. Fechou três anos que eu via ele todas as noites. Disse que ia sair de férias e nunca mais voltou. O papo dele era estranho. Desenhava no paint, e sempre achava um apelido pra qualquer um. Um dia, quando tava passando o filme As branquelas, na Globo, ele disse que eu parecia uma delas (eu mereço). Ah, e como meu sobrenome é Bechert, e ele não sabia pronunciar, saía espalhando pros vizinhos que eu era prima do David Beckham. Bem que eu podia ser esposa dele, e não prima (#comentário tarada da vez).

Mas, o mais incrível é que eles sabem tudo da tua vida sem nem mesmo perguntar. Eles sabem quando tu namora e quando não. Quando está de rolo, de ressaca, cansado, triste, feliz, elétrico. Não precisa trocar uma palavra. É só um oi e já basta pra ele saber se pode ou não fazer piadinha (legal ou sem graça) naquele dia.

Bom, eu sei que eles são prestativos, mas são curiosos. Essa semana mesmo, um deles, gentil, carregou minhas sacolas do super e aproveitou pra fazer um comentário sobre as compras. Sim, esse é uma figura... todos devem adorar ele por aqui.

Tenho um problema grave: nunca sei nome de porteiro nenhum, e não me preocupo muito com isso. Afinal, cada dia é um diferente. Eles até dizem que o garoto que mora comigo é meu irmão. Eu nunca disse que não, vai que seria difícil eles entenderem minha explicação.

Mas, uma vez fui em uma festa, com a minha prima. A festa estava ruim e decidimos volta pra casa pelas duas da matina. Resolvemos ficar na portaria conversando com a alma da portaria, já que ir pra casa dormir era muito triste. Infelizmente foi um monólogo e eu quase dormi na cadeirinha.

Bom, já chamaram ficante meu com o nome do meu ex, já perguntaram quantas pessoas jantariam aqui por causa da pizza que tava chegando, já pararam com a porta do elevador aberta por mais de dez minutos pra bater papo, já disseram pra acompanhantes, que o último tinha saído degolado/enforcado daqui (nãomerecordomuitobem).

No fundo, no fundo mesmo, quando eu me sinto sozinha, sem ninguém pra conversar, eu penso em ir até a portaria falar um pouco.

Penso, logo desisto.