terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pegando o ônibus.


Viajar de ônibus é sempre uma aventura. Raramente se sabe se a viagem será calma ou se terá transtornos. Fique sempre com a segunda opção.  
Na hora da compra do bilhete, tive o cuidado de escolher uma poltrona ímpar, do lado oposto ao do motorista, pois, caso aconteça um acidente, as chances de se machucar ou morrer são menores. Dizem que essa teoria é baseada porque na hora da ultrapassagem o lado do motorista é o que fica exposto ao maior perigo. Eu não sei se acredito, mas como minha mãe aconselha a comprar o bilhete para sentar do lado direito, esse conselho eu ainda sigo.  
Na rodoviária, sentada no banco, esperando, imagino um ônibus confortável e com ar-condicionado potente. Quando chega, a decepção. O veículo é o reserva da empresa, aquele usado em feriados, para as linhas extras. As poltronas são mais estreitas e menos macias.
Ao entrar no ônibus, preciso aguardar as outras pessoas localizarem suas poltronas. Assim que visualizo o número da minha, 19, preciso pedir licença à pessoa que “comprou” o lugar ao meu lado, na poltrona par, a do corredor. Ao me acomodar, procuro o gancho ao lado do banco para reclinar o banco. Ele não baixa. Todas as poltronas do ônibus reclinam e a minha está estragada. Justo a minha.
Como a poltrona não reclina fica difícil descansar. Dormir, muito menos. Outro problema começa a atrapalhar: a minha altura. Ela fica entre os apelidados de baixinhos, e as poltronas são planejadas para pessoas mais altas. Então, minha cabeça mal se acomoda. Em uma viagem longa, sem poder reclinar a poltrona, a dor no pescoço aparece. 

O motorista dá a partida. Tento dormir, mas tinha esquecido daquelas pessoas inconvenientes, e que sei que não fazem por mal, mas que sempre estão nas viagens de ônibus. A criança com salgadinho fedorento que infesta o ônibus, o bebê que chora a viagem toda, a mulher que fala alto e sem parar ao celular, os que escutam música no celular sem fone de ouvido, as mulheres que adoram mexer em uma sacola de plástico, o homem cansado que ronca ao dormir.
Se você viajou de ônibus e não encontrou nenhum desses personagens, parabéns. Você teve sorte.  
O ar mal funciona, as janelas são lacradas. O bebê vomitou. O ônibus é pinga-pinga e faz uma parada para o embarque de mais passageiros de dez em dez metros. A viagem, que estava prevista no site da empresa para ser de duas horas, se transforma em três.
Depois desse tempo todo, até aqueles que nem têm motivos para incomodar os outros passam a me irritar. E eu só quero que o motorista dirija direitinho para que, pelo menos, eu chegue viva ao meu destino.
Na chegada, a descida dos degraus é um alívio. Ao colocar o pé no chão e aguardar a fila para a retirada da mala no bagageiro, o suspiro é o desabafo e o pensamento de que finalmente acabou e que posso começar a me preparar psicologicamente para a volta. 

Texto publicado na página 2, Tema Livre, do Jornal A Hora do Vale do dia 1° de Novembro de 2011.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Deixe de lado o medo de amar.


É metade do dia. Você está no trabalho e pronto para começar o próximo turno. Seus pensamentos estão em sua família e em como poderá aproveitar o resto do dia, após o expediente. Você saiu de casa sem se despedir de quem compartilha seu dia a dia. Esqueceu de dar aquele beijo no marido – semelhante ao que emocionou na primeira vez que sentiu aqueles lábios.

Ao fechar a porta do carro, lembra-se dos filhos, que ainda dormem. A próxima chance de falar com eles e matar a saudades será à noite. Isso, se nenhum trocar o jantar tradicional da família por um encontro casual com os amigos ou colegas.

A programação no trabalho é semelhante a dos dias anteriores. Ao fim do expediente, a rotina muda. Você tomou outro rumo e não voltou para casa. Independentemente do que tenha acontecido, você morreu e perdeu a oportunidade de conviver com as pessoas que amava.

 Os familiares choram e lamentam. Gostariam de ter mais um momento com a pessoa que amavam. Eram raras as vezes em que valorizavam sua presença e que expressavam seus sentimentos. Grande parte das pessoas valoriza as outras depois que as perde e percebem o quanto eram importantes.

Em outras situações, quando partir é uma opção, sente-se o alívio de poder expressar os sentimentos, mesmo depois do fim do relacionamento. Por algum motivo, o relacionamento estava desgastado, e a decisão de se afastar foi, de alguma maneira, para medir a importância do outro. Nos piores casos, se esquece, e a vida recomeça.

Assim, reflita o quanto os outros são importantes e valiosos em sua vida e se expresse. Mostre aos que estão ao seu redor o que eles significam. Não deixe de falar. Sincronize as atitudes com as palavras para que ao fim da vida ou do relacionamento, para que aquilo que você tinha vergonha não fique trancado para sempre na garganta e no coração.


Ninguém tem a certeza de quando irá morrer.  Será que hoje você terá a oportunidade de mostrar a quem ama o quanto você ama? Fale, mostre, beije, abrace, sorria. Amanhã pode ser o último dia. Ame hoje. 
* Texto publicado no Tema Livre do Jornal A Hora do Vale no dia 08/09/2011

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O encontro com o livro.


Era horário de almoço. Todos os dias os funcionários da empresa são destinados a locais diferentes para o almoço. E eu me dei ao luxo de sair da regra, pagar a refeição e saborear algum item do cardápio do Croasonho Café – em Lajeado.

Ao me acomodar e encontrar outras colegas do jornal, reparei que havia um objeto a mais em cima da mesa do restaurante. Era um livro, que estava entre o portaguardanapos e aquela sugestão rápida para o pedido. Com 146 páginas, a marcação – aquela feita quando se para de ler – estava entre a 28 e a 29.

Pego o “A Favor do Vento”, sem reparar muito na capa e pergunto para as colegas de quem é. Uma delas responde que algum frequentador do lugar deveria tê-lo esquecido. Folheio. Procuro por algum nome e vejo uma mensagem na folha de rosto, ainda sem entender.

Olho detalhadamente a capa, e, em um bilhete colado – que até esse momento eu ignorei – vejo a mensagem “Achei você! Me leva para casa? Sou um presente da Unimed para você”.
O presente é exibido para as colegas, que sorriem e buscam entender o que acontecia.


Prossigo lendo a mensagem: “Acesse algum dos canais da Unimed, listados abaixo, e conte como me encontrou. Depois da leitura, me passe adiante e faça outra pessoa voar. Tenha uma atitude sustentável, ajude a espalhar a cultura e prestigie a 6ª Feira do Livro de Lajeado, de 9 a 14 de agosto, no Parque do Imigrante”.

Pena que meu pedido chegou logo e que tinha esquecido meus óculos na redação. Queria começar a ler instantaneamente.

Para compensar, adicionei uma mensagem ao meu vício: o Twitter. “Achei o livro do patrono da Feira do Livro de Lajeado, Duca Leindecker. Presente da  @UnimedVTRP http://t.co/yD59kCm”. Logo ganhei um RT de uma seguidora, elogiando a obra. Fiquei com mais vontade de ler.

Voltei para a redação do jornal e comecei a contar a história para os outros colegas. Afinal, não é todos os dias que se ganha um livro. E para cumprir o que foi pedido no bilhete, a fila de espera para a leitura desse exemplar já está formada.

As pessoas dizem que nunca mudaremos o mundo. Mas isso acontece com iniciativas como a da Unimed. Essa me animou, por gostar de leitura e por me oportunizar conhecer uma das obras do patrono da Feira do Livro de 2011. E espero que o hábito de outras pessoas mudem com atitudes sustentáveis como essa.

Obrigada UnimedVTRP.
E uma boa leitura, em especial para mim.

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domingo, 31 de julho de 2011

Gestos comuns.

O sorriso e o abraço de saudades marcam o reencontro. O cheiro de cigarro, característico, e as bebidas pelo chão, não surpreendem. Depois daquele tempo cheio de desculpas e da falta de vontade de se encontrarem, ela se pergunta se aquilo acontece.  

“Tu tá bem? Tá vivo? Que saudades”, diz. A noite continua como se fossem íntimos. Histórias envolventes a todo instante. Olhar de confidentes. Confidentes de histórias e sentimentos. Aqueles que não significam a relação deles.  

A cada cinco minutos, uma cerveja sai da geladeira. Uma história também. Um cheiro, um aconchego. Até que o passado foi desenterrado.

- “Por que nunca namoramos?” – pergunta ele.

Ela pensa: “Ora, que pergunta idiota, tu sabes muito bem”. Mas responde:

- Eu era muito grudenta.

- Certo. Provavelmente era isso.

Na verdade o motivo não deveria fazer diferença. A teimosia dos dois fez com que aquilo não acontecesse. Eles se gostavam. Eles se gostam. Mas não têm motivos e nem disposição para confiar um no outro.

O silêncio toma conta. Cervejas continuam sendo abertas para esquecer os problemas. Graves ou nem tanto, cada um tem uma vida, sem poder contar com a ajuda do outro.

É hora de dormir. “Boa noite” são distribuídos como se fossem comuns. Eles pegam no sono. A mente e o corpo não relaxam nem enquanto descansa. Qual é o problema, o rancor, o medo e a angústia?

O dia amanhece. A noite conturbada se identifica com a rapidez ao sair da cama. O cigarro e a bebida o esperam.

A porta serve como escoro. A observação é obrigatória. A torcida para que se importe com algo é constante.

- Estou indo embora. Tem certeza que vai me deixar ir?

O caminho do elevador é sempre curto. Peço que fique bem, que se cuide. E imagino o encontro daqui há anos, para sentir o abraço, matar a saudade, e se sentir à vontade com seus vícios. 

domingo, 24 de julho de 2011

Ao meu lado.

A lembrança está ao meu lado durante todo o dia. A coragem para eliminá-la demora a chegar. Fica o medo de que aqueles dois anos sejam jogados no armário, junto com aquelas coisas sem importância e jogadas fora em época de mudanças de endereço.

Os olhos embaçam, o coração dispara. Ao mesmo tempo em que a tristeza chega rápido para lembrar que não haverá mais momentos felizes, a mente lembra dos já passados. O almoço, as compras no supermercado, a primeira janta, o vinho, o filme, as primeiras palavras. Os inéditos e novos carinhos, o calor, a proximidade. Os primeiros beijos, e aquela noite.

Todas as atitudes surpreendiam. Conhecer e ficar mais próximos eram os passos certos para chegar o dia do pedido, da lâmpada, dos chocolates, do eu te amo. Crescia o apego, o carinho, o desejo. Os sonhos começavam a fazer sentido.

As coisas amadas em comum. A fotografia, as viagens, a culinária, os futuros loirinhos. Coisas que tu aprende a gostar pelo outro. A aviação, o jornalismo. Busca diária de empregos na mesma cidade e de internet para se falar quando se estava longe.

A alegria se manifestava pelas pequenas coisas. Aquelas insignificantes. Tudo era melhor e mais alegre. Nenhum esforço era em vão, como o de dormir juntos na cama de solteiro.

Então, o dia amanheceu cinza. Os rostos começaram a ser estranhos. O que os fazia felizes não tinha mais sentido. As brigas por um fio de cabelo se tornaram comuns. O sorriso não mostrava mais os dentes. Por um erro, perdeu-se a confiança. Eu percebia que por mais que eu tentasse e fizesse de tudo para o sorriso e a felicidade voltarem, era tarde.

A imagem dos nossos pés me lembra que queríamos seguir o mesmo caminho. Que os planos eram feitos para isso. Mesmo assim, vejo que nenhuma coragem será suficiente para esquecer e guardar o que restou ao meu lado, o porta-retrato.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sem tempo.

A população vive cada vez com menos tempo. São raros os momentos em que temos minutos disponíveis para tomar café da manhã, para almoçar com os amigos pouco visitados ou para ir naquele almoço de família no domingo.  

São diversas atividades que nos envolvem e ocupam nosso tempo. O trabalho, para aqueles que querem garantir um bom emprego, um bom cargo e uma boa carreira. Os estudos, pois uma graduação não basta. Especializações, pós-graduações, mestrados, doutorados estão inclusos na lista das pessoas que buscam um futuro promissor, vão para casa somente para descansar e estão felizes com escolhas de como ocupar o seu tempo. 

Eles dividem suas vidas com os colegas de trabalho e poucos sabem o que falar para seus pais, além de problemas graves e notícias extraordinárias como, “vocês irão ser avós”.  Os colegas próximos sabem quais são seus pratos preferidos, as roupas mais usadas, as principais manias e reconhecem aquele olhar de que algo os tirou do sério, interpretação que não ocorre mais com suas famílias. 

As famílias organizam os encontros do Dia das Mães, dos Pais e os Natais com a esperança de que o filho ocupado apareça. Feliz e com novidades. Eles esquecem. Eles precisam trabalhar. Eles não têm tempo. A falta de tempo, que fez você deixar de aproveitar a vida, como sempre sonhou. 

Dizem que não ter tempo é desculpa de desorganizados. Na verdade, todos têm tempo, mas prioridades diferentes. Elas podem definir o término deste texto até o fechamento da edição, ou se haverão outros trabalhos prioritários.  

Aqueles que não têm tempo para tomar café da manhã, optaram por dormir mais e deixar essa refeição de lado. O tempo não é perdido. Ele sempre será aproveitado de alguma maneira. Depende da pessoa, de suas opções, prioridades e da sua vida.  

O tempo vai passar. No fim do ano as pessoas falarão: “já é Natal, de novo. O que eu fiz esse ano?” Optou por não ver o tempo passar. Trabalhou, estudou e sonhou em ter mais oportunidades com a família, fazendo coisas que gostaria de fazer. Optou em ter um tempo para sonhar com isso.  

Não ter tempo é pessoal. Os que nunca o têm, continuarão reclamando de sua falta. Os que conseguem organizá-lo, se queixarão dos que usam isso como desculpa. Ou não. Talvez eles possam aproveitar melhor o seu tempo.  

* Texto publicado no Tema Livre do Jornal A Hora do Vale no dia 14/06/2011